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terça-feira, 3 de março de 2020
Imperialismos, Gobineau e o Racismo
IMPERIALISMOS, GOBINEAU E RACISMO
ImperialismoImperialismo é a política ocorrida na época da Segunda Revolução Industrial. Trata-se de uma política de expansão territorial, cultural e econômica de uma nação em cima de outra. O imperialismo contemporâneo é chamado de neo-imperialismo, pois possui muitas diferenças em relação ao imperialismo do período colonial. Basicamente, os países imperialistas buscavam três coisas: Matéria-prima, Mercado consumidor e Mão-de-obra barata.
A concepção de imperialismo foi perpetrada por economistas alemães e ingleses no início do século XX. Este conceito constituiu-se em duas características fundamentais: o investimento de capital externo e a propriedade econômica monopolista. Desse modo, a capitalização das nações imperialistas gradativamente se ampliava, por conseguinte a ‘absorção’ dos países dominados, pois monopólios, mão-de-obra barata e abundante e mercados consumidores levavam ao ciclo do novo colonialismo, que é o produto da expansão constante do imperialismo.
Os países imperialistas dominaram, exploraram e agrediram os povos de quase todo o planeta. A política imperialista provocou muitos conflitos, como a Guerra do Ópio na China, a Revolução dos Cipaios na Índia, etc. Assim, ao final do século XIX e o começo do XX, os países imperialistas se lançaram numa louca corrida pela conquista global, desencadeando uma rivalidade entre os mesmos. Essa rivalidade se tornou o principal motivo da Primeira Guerra Mundial, dando princípio à “nova era imperialista” onde os EUA se tornaram o centro do imperialismo mundial.
Joseph-Arthur, Conde de Gobineau (1816-1882), nascido em Ville-d'Avray, na França, e falecido em Turin, na Itália, diplomata francês, escritor, etologista e filósofo, sua teoria do determinismo racial teve uma grande influência no desenvolvimento de políticas racistas na Europa. Vivendo em Paris, a partir de 1835, tornou-se funcionário público e deveu o inicio de sua carreira à sua cultura e ao posto de secretário do escritor e estadista francês Alexis de Tocqueville quando este foi ministro em 1849. Como diplomata, Gobineau serviu em Berna, Hanover, Frankfurt, Tehran, Rio de Janeiro, e Stockholm.
Gobineau foi também um apreciado autor de histórias, e de livros sobre a História e de crítica literária. Porém, a obra que o tornou mundialmente conhecido foi o seu Essai sur l'inégalité des races humaines, em quatro volumes, publicado de 1853 a 1855.
Gobineau comparou o cérebro do homem nas diferentes etnias e assumiu que havia uma relação entre seu volume e o grau de civilização.
Segundo ele, a mistura de raças era inevitável, e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência, tanto física quanto intelectual. É atribuída a Gobineau a frase "Eu não acredito que viemos do macaco mas creio que estamos indo nessa direção".
Ele postulava a superioridade da raça branca sobre as demais, e nesta distinguia os povos Arianos, os alemães, representando o povo mais civilizado. Sustentou a teoria de que o destino das civilizações é determinado pela composição racial, que os brancos, e em particular as sociedades arianas floresciam desde que ficassem livres dos pretos e amarelos, e que quanto mais o caráter racial de uma civilização se dilui através da miscigenação, mais provável se torna que ela perca a vitalidade e a criatividade, e mergulhe na corrupção e imoralidade.
As teorias de Gobineau não eram totalmente novas, inserindo-se em uma discussão que tivera origem no humanismo renascentista e nas observações de cientistas à época dos grandes descobrimentos marítimos.
Igualmente não ficou só na sua posição, pois na mesma época do Essai homens como o compositor alemão Richard Wagner, o filósofo Friedrich Nietzsche, politicos como Houston Stewart Chamberlain, este nascido na Inglaterra e genro de Wagner, e Adolf Hitler aderiram ao que foi então chamado "gobinismo".
Somente a raça branca ou "Ariana", criadora da civilização, possuía as virtudes mais elevadas do homem: honra, amor à liberdade, etc., qualidades que poderiam ser perpetuadas apenas se a raça permanecesse pura. Em sua opinião os judeus e os povos mediterrâneos haviam degenerado devido a muita miscigenação ao longo da história. Somente os alemães haviam preservado a pureza ariana, mas a evolução do mundo moderno os condenava também aos cruzamentos interraciais e a degenerescência.
O povo ariano teria habitado um ponto da Ásia, basicamente o Cáucaso e a região montanhosa da Pérsia central. A evidência de sua existência eram as raizes fonéticas das línguas faladas nessas regiões, remanescentes do que teria sido a língua Indo-Europea. Foi encontrada também uma inscrição do século V antes de Cristo do rei persa Darío (522-486 BC), onde declara ser rei dos persas e "da raça ariana". A palavra seria originalmente "Ayia, significando "livre", nobre" "firme" e dela deriva a palavra Irã., hoje o nome do país que foi a antiga Pérsia. Heródoto, referiu-se aos povos do Irã ( antiga Pérsia) como arianos. A partir dessa região original, o platô iraniano, teriam conquistado o norte da Índia ao Sul e regiões da Europa, ao norte. Na Índia resultou uma divisão entre a cultura ariana no norte e a cultura dravidiana ao sul, algo hostis uma com a outra.
Reações ao Essai sur l'Inegalite des Races Humaines. As teorias de Gobineau foram em geral bem recebidas, e se tornaram de certo modo populares nos países europeus. Os povos que ele discriminara pouco reagiram, e os comentaristas da correspondência por ele mantida com Dom Pedro II não aludem ao que o monarca teria dito em resposta às queixas do francês, ou mesmo como crítica às suas idéias. Fora do Brasil, um enérgico protesto veio do Haiti, um país de população quase cem por cento negra, e que, como todos os países africanos e afro-americanos, sentiu-se humilhado com a nova filosofia racista da superioridade racial. Antenor Firmin, um afro-haitiano, publicou em Paris, em 1885, portanto apenas três após a morte de Gobineau, um monumental ensaio em francês, de 650 páginas, cujo título é uma paródia ao ensaio de Gobineau: L'Egalite des Races Humaines ("A igualdade das raças humanas"). Joseph-Antenor Firmin foi jornalista, escritor, advogado e ministro das relações exteriores do presidente Hyppolite no Governo do Haiti. Um rebelde em certa época na história de seu país, foi exilado em St. Thomas, nas ilhas Virgens, território norte americano. Além da obra em resposta a Gobineau, publicou em 1905, um livro de grande repercussão, sobre o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, nas relações com a República do Haiti, profetizando uma intervenção americana que mais tarde de fato aconteceu.
O livro salienta as conquistas da cultura negra desde o Egito antigo e os países do vale do Nilo, Sudão e Etiópia, até a primeira "República Negra" do Haiti, como evidência do potencial dos povos africanos. Porém, enquanto o livro racista de Gobineau foi traduzido em inúmeras línguas e viria a influir na formulação da ideologia nazista, o livro de Firmin ficou na obscuridade, apesar de sua inegável importância como obra de antropologia e antropologia filosófica.
Impressões do Rio. A segunda missão diplomática de Gobineau foi ao Brasil, onde chegou em 1876, enviado por Napoleão III, e onde permaneceu pouco mais de um ano como representante do governo francês. Segundo os que comentam as relações do Imperador Pedro II com os intelectuais europeus, este teve particular amizade com Gobineau. Na volumosa correspondência trocada entre ambos, Gobineau nunca deixou de referir-se a sua vinda ao Brasil como uma péssima experiência.
Obras Além do Essai sur l'inégalité des races humaines, saído nos anos 1853 a 1855, Gobineau escreveu outras obras em História e literatura. Seus livros de ficção incluem o famoso Pléiades, de 1874; Souvenirs de voyage, de 1872; e Les Nouvelles Asiatiques, de 1876. As obras Histoire des Perses, 2 vol., de 1869; Religions et philosophie dans l'Asie Centrale, de 1865; e La Renaissance, de 1877.
Racismo
O racismo é a tendência do pensamento, ou o modo de pensar, em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, atribuindo superioridade a alguns de acordo com a matriz racial.
A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade e ao complexo de inferioridade, se sentindo, muitos povos, como inferiores aos europeus.
O racismo tem assumido formas muito diferentes ao longo da história. Na antiguidade, as relações entre povos eram sempre de vencedor e cativo. Estas existiam independentemente da raça, pois muitas vezes povos de mesma matriz racial guerreavam entre si, e o perdedor passava a ser cativo do vencedor, neste caso o racismo se aproximava da xenofobia. Na Idade Média, desenvolveu-se o sentimento de superioridade xenofóbico de origem religiosa.
Quando houve os primeiros contatos entre conquistadores portugueses e africanos, no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos da África entraram em acordos comerciais com os europeus, que incluíam o comércio de escravos que, naquela época, era uma forma aceite de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade e não uma questão racial.
No entanto, quando os europeus, no século XIX, começaram a colonizar o Continente Negro e as Américas, encontraram justificações para impor aos povos colonizados as suas leis e formas de viver. Uma dessas justificações foi a ideia errônea de que os negros e os índios eram "raças" inferiores e passaram a aplicar a discriminação com base racial nas suas colônias, para assegurar determinados "direitos" aos colonos europeus. Àqueles que não se submetiam era aplicado o genocídio, que exacerbava os sentimentos racistas, tanto por parte dos vencedores, como dos submetidos, como os índios norte-americanos que chamavam os brancos de "Cara pálidas".
Os casos mais extremos foram a confinação dos índios em reservas e a introdução de leis para instituir a discriminação, como foram os casos das leis de Jim Crow, nos Estados Unidos da América, e do apartheid na África do Sul
Movimento de eugenia no Brasil
O que foi o movimento de eugenia no Brasil: tão absurdo que é difícil acreditar
Eugenia é um termo que veio do grego e significa ‘bem nascido’. “A eugenia surgiu para validar a segregação hierárquica”, explica ao VIX a pesquisadora Pietra Diwan, autora do livro “Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo”.
Por TIAGO FERREIRA, do Vix
Como a eugenia nasceu
A ideia foi disseminada por Francis Galton, responsável por criar o termo, em 1883. Ele imaginava que o conceito de seleção natural de Charles Darwin – que, por sinal, era seu primo – também se aplicava aos seres humanos.
Seu projeto pretendia comprovar que a capacidade intelectual era hereditária, ou seja, passava de membro para membro da família e, assim, justificar a exclusão dos negros, imigrantes asiáticos e deficientes de todos os tipos.
Foto: WIKIMEDIA COMMONS
Para isso, ele analisou a biografia de mais de 9 mil famílias.
“Galton pretendeu estender as implicações da teoria da seleção natural, indicando que os seus estudos demonstravam que além da cor do olho, feição, altura e demais aspectos fisiológicos, também traços comportamentais, habilidades intelectuais, poéticas e artísticas seriam transmitidas dos pais aos filhos”, descreveu o pesquisador Valdeir del Cont, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O projeto da eugenia foi apresentado ao mundo pela Grã-Bretanha e colocado em prática pela primeira vez nos Estados Unidos.
Foto: CORBIS HISTORICAL/GETTY IMAGES
Movimento de eugenia no Brasil
O Brasil não só ‘exportou’ a ideia como criou um movimento interno de eugenia.
Médicos, engenheiros, jornalistas e muitos nomes considerados a elite intelectual da época no Brasil viram na eugenia a ‘solução’ para o desenvolvimento do país.
Eles buscavam, portanto, respaldo na biogenética (ou seja, nos estudos e resultados de pesquisa de Galton) para excluir negros, imigrantes asiáticos e deficientes de todos os tipos. Assim, apenas os brancos de descendência europeia povoariam o que eles entendiam como ‘nação do futuro’.
Segundo a antropóloga social Lilia Schwarcz, a eugenia oficialmente veio ao país em 1914, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, com uma tese orientada por Miguel Couto, que publicou diversos livros sobre educação e saúde pública no país.
Couto via com maus olhos a imigração japonesa e anos mais tarde, em 1934, seria um dos responsáveis por implementar um artigo na Constituição da época que controlava a entrada de imigrantes no Brasil.
Nos primeiros anos do século XX, porém, havia no Rio, então capital brasileira, a ideia de que as epidemias brasileiras eram culpa do negro, recém-liberto com a abolição da escravatura (1889).
Portanto, para parte da elite intelectual da época, a eugenia seria uma forma de ‘higiene social’, tanto que “saneamento, higiene e eugenia estavam muito próximas e confundiam-se dentro do projeto mais geral de ‘progresso’ do país”, conforme assinalou a pesquisadora Maria Eunice Maciel, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Renato Kehl: o pai da eugenia no Brasil
Foto: WIKIMEDIA COMMONS
Quando se deparou com a tese orientada por Couto, o médico e sanitarista Renato Kehl (1889-1974), considerado o pai da eugenia no Brasil, achou que a comunidade científica tinha que se esforçar mais.
Ele acreditava que a melhoria racial só seria possível com um amplo projeto que favorecesse o predomínio da raça branca no país.
A professora Maria Maciel enumera algumas das ideias de Kehl: “segregação de deficientes, esterilização dos ‘anormais e criminosos’, regulamentação do casamento com exame pré-nupcial obrigatório, educação eugênica obrigatória nas escolas, testes mentais em crianças de 8 a 14 anos, regulamentação de ‘filhos ilegítimos’ e exames que assegurassem o divórcio, caso comprovado ‘defeitos hereditários’ em uma família”.
Kehl conseguiu trazer diversas autoridades médicas para levar o projeto de eugenia adiante: um deles é Gonçalves Vianna, da então Liga de Higiene Mental do Rio Grande do Sul. Outra figura bem conhecida era o radialista Roquette-Pinto, que liderou o Congresso de Eugenia no Rio, em 1929.
Nesse congresso, que reuniu dezenas de médicos e biólogos favoráveis à ideia de eugenia, eles classificaram pessoas com deficiência, como cegos, surdo-mudos e pessoas com deficiência mental, por exemplo, de ‘tarados’ – ou seja, um mal a ser combatido para que a ‘raça superior’ prevalecesse.
Mulheres eram tidas como ‘procriadoras’ e a eugenia, para eles, era uma forma de “advertência do perigo que ameaça a raça com o feminismo”, como assinalou Maciel.
Foto: WASHINGTON MATTHEWS/PUBLIC LIBRARY
Na mesma época, chegou a ser organizado um “Concurso de Eugenia” que serviria para premiar as 3 crianças que “mais se aproximassem do tipo eugênico ideal”, conforme anunciava o cartaz.
As ‘vencedoras’ do concurso eram todas garotas, brancas, que foram classificadas como “boas procriadoras”.
Segundo Pietra Diwan, em escala nacional e política a eugenia era um “superprojeto”, porque permitia identificar as características raciais e físicas consideradas ‘ruins’ pelos mais ricos da época e “cortar o mau para desenvolver apenas as boas características em cada pessoa”.
Intelectuais contra e a favor da eugenia
Foto: WIKIMEDIA COMMONS
Quem era a favor
Nas décadas de 1920 e 30, o pensamento eugenista cooptou muitos nomes influentes, como Júlio de Mesquita, proprietário do jornal O Estado de S. Paulo; Oliveira Vianna, jurista e sociólogo considerado ‘imortal’ pela Academia Brasileira de Letras; e o fundador da Faculdade de Medicina em São Paulo, Arnaldo Vieira de Carvalho – que dá nome à conhecida “avenida doutor Arnaldo”, no centro da capital paulista.
O renomado autor de “Sítio do Picapau Amarelo”, Monteiro Lobato, não só era bastante próximo de Renato Kehl, como chegou a escrever um livro baseado nas ideias de eugenia.
Publicado em 1926, “O Presidente Negro – O Choque das Raças” falava de um homem negro que assumiria a Casa Branca no ano de 2228 e uniria todos os brancos dos Estados Unidos a ponto de esterilizar e exterminar os negros de seu país.
Foto: DIVULGAÇÃO/EDITORA GLOBO
Pouco depois de lançar o livro, Lobato menciona o amigo em termos que hoje soam assustadores:
“Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. Precisamos lançar, vulgarizar estas ideias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha”.
Não tinham opinião clara
Após a proclamação da República, o Brasil vivia um novo momento. Os negros recém-libertos disputavam mercado de trabalho com imigrantes de diversas partes do mundo (como Japão, Itália, Síria e judeus refugiados, para citar alguns), fazendo com que a unidade brasileira fosse repensada.
Foi nesse contexto, em 1933, que o escritor pernambucano Gilberto Freyrepublicou “Casa Grande e Senzala”, livro que revolucionou a antropologia brasileira ao mostrar como a miscigenação tornou-se um traço único do Brasil.
Foto: DIVULGAÇÃO/EDITORA GLOBAL
Pietra Diwan afirma, porém, que as ideias de Freyre não se tratavam de um contraponto à eugenia. “É controverso. Na minha visão, ele tenta justificar o preconceito no Brasil através da miscigenação. Ele critica sim a segregação. Mas o perigo da miscigenação nesse contexto é o branqueamento, que se tornou a proposta de alguns: ‘bom, vamos miscigenar porque branqueia e elimina os caracteres ruins da sociedade’”.
Freyre era próximo de Renato Kehl e considerado um dos grandes gênios brasileiros por Monteiro Lobato. Ainda assim, diz Pietra, “Freyre não era do movimento eugenista. Digo que ele é entendedor”.
Nem mesmo os modernistas, que tinham como proposta enaltecer a ‘raiz’ do Brasil no campo da literatura e das artes plásticas, foram totalmente contra a eugenia. “Grande parte dos modernistas seguiu em busca de um país natural, puro, das imagens dos indígenas, mas eles excluem completamente os negros. Eles não contemplam a totalidade da sociedade brasileira naquele momento”, reflete Pietra.
Foto: GUILHERME GAENSLY/MEMORIAL DO IMIGRANTE/WIKIMEDIA COMMONS
Quem era contra
Um dos maiores opositores ao ideal de eugenia foi o médico sergipano Manoel Bonfim. Em 1905, ele publicou uma obra que irritou a comunidade médica: o livro “A América Latina: males de origem”. Ele chamou a eugenia de “falsa ciência” e expôs o preconceito declarado dos europeus em relação aos latino-americanos.
“O livro é uma analise das causas da miséria e do atraso geral do continente, em que desmascarava o chamado racismo cientifico”, explica o sociólogo Jefferson Medeiros, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “A formulação dada por Bomfim em contraposição ao que era vigente na época sobre o fator das raças serem as causas do subdesenvolvimento leva-o a formular a tese do parasitismo social”.
(Parasitismo social é a ideia de que os países ricos invadem as nações para extrair a riqueza e fazer dos nativos uma classe dominada.)
Eugenia na atualidade
Foto: GRAL/SHUTTERSTOCK
Relatos e provas da violência generalizada devido ao Holocausto promovido pela Alemanha nazista fizeram com que houvesse um “constrangimento internacional em relação à eugenia”, segundo Pietra.
De qualquer forma, esse pensamento persiste, sim, em nossa sociedade. “Se hoje não existe uma eugenia institucionalizada, existe um pensamento eugenista incrustado na mente do brasileiro. Não nos damos conta porque ele é tão naturalizado, que a gente vê sempre como uma piada ou uma justificativa de diferenciar o seu lugar em relação ao outro”, explica a pesquisadora.
Piadas corriqueiras como “segunda-feira é dia de branco” ou “sou pobre, mas sou limpinho” são alguns exemplos de como a eugenia chegou aos nossos tempos.
Pietra atribui a persistência desse discurso aos programas televisivos, ou seja, “a indústria de consumo e a cultura de massa no Brasil”. Mais uma vez, trata-se de uma herança norte-americana. “Essa cultura vem essencialmente dos Estados Unidos, através de Hollywood e dos bens de consumo”, diz a pesquisadora.
“O termo eugenia pode ter desaparecido, mas as perguntas, o pensamento e a preocupação permaneceram”, diz a pesquisadora brasileira, que atualmente trabalha sua tese de doutorado relacionando a eugenia nos Estados Unidos.
Pietra diz que, naquele país, a eugenia é institucionalizada nas relações sociais – algo que se comprova com a clara distinção entre brancos e negros em todas as esferas
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
Multiculturalismo
Multiculturalismo
Entende-se por multiculturalismo tanto
os estudos acadêmicos quanto as políticas institucionais que se desenvolvem em
torno das questões trazidas pela emergência das sociedades multiculturais. Uma
sociedade multicultural é aquela que, em um mesmo território, abriga povos de
origens culturais distintas entre si. As relações entre esses grupos podem ser
aceitação e tolerância ou de conflito e rejeição. Isso vai depender da história
da sociedade em questão, das políticas públicas propostas pelo Estado e,
principalmente, do modo específico como a cultura dominante do território é
imposta ou se impõem para todas as outras. A convivência entre culturas
diferentes não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos últimos anos
devido a acontecimentos marcantes.
Não é possível entender o
multiculturalismo fora do contexto do fenômeno da globalização. O desenvolvimento acelerado
dos meios de transporte e das tecnologias de comunicação aproximaram diferentes
regiões do mundo, criando redes industriais e financeiras complexas e uma
economia multinacional, interdependente e insubmissa às fronteiras nacionais.
Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos passam a
hegemonizar culturalmente todo o planeta. Seus produtos, filmes, músicas e
formas de ver as coisas se espalham globalmente gerando o que se chama de “americanização” do mundo. Frente a esse
fenômeno de hegemonização dos padrões culturais globais, as culturas
tradicionais se fortaleceram, reagindo contra a massificação dos modos de ser.
Por outro lado, apesar da massificação, vemos que essas comunidades culturais
locais são capazes de se apropriar de partes da cultura americana,
transformando-as em uma algo novo e diferente do original. No Brasil, o funk e rap são
um exemplo claro dessa possibilidade.
Outros processos importantes que
influenciam no surgimento das sociedades multiculturais, são as lutas pela
independência que ocorrem nas colônias europeias da segunda metade do século
XX, especialmente na África e na Ásia. O cenário pós-colonial gera um processo
de resgate das culturas tradicionais locais e, ao mesmo tempo, pela ligação
histórica, desencadeia um movimento migratório para os países colonizadores.
Também os conflitos de ordem étnica, religiosa e política, além das
deficiências econômicas, são fatores que aumentam o fluxo migratório.
Incentivado por tudo isso e pelo próprio cenário criado pela globalização, esse
movimento migratório transforma de modo profundo as nações que receberam os
imigrantes, colocando em cheque a capacidade dos estados modernos de gerirem
sua nova configuração multicultural.
Alguns países democráticos têm
buscado promover a aceitação e incorporação de culturas diferentes em seus
territórios, valorizando a possibilidade de se constituírem enquanto nações
pluriétnicas. No entanto, em outros países, a negação de direitos sociais e a
perseguição de minorias culturais são práticas oficiais. Muitas vezes, ainda
que exista uma política multiculturalista oficial, a perseguição é praticada
por pessoas comuns, inflamadas por um sentimento de nacionalismo e rejeição ao outro. Os
ataques violentos organizados por civis aos abrigos de refugiados de origem árabe na Alemanha são um
exemplo disso. O multiculturalismo emerge a partir das reivindicações de
minorias étnicas que sofrem de opressão histórica em seus territórios, como os
negros e as populações indígenas por todo continente americano, incluindo o
Brasil. O debate em torno desse tema é muito importante e traz à tona a forma
como lidamos, enquanto sociedade, com as diferenças étnicas, culturais e
religiosas que nos cercam.
Significado
de Ecletismo
O que é Ecletismo
Ecletismo, também chamado de ecleticismo, é um
termo que se refere a uma tendência ou doutrina que seleciona e recolhe elementos de outros tipos de
teorias que parecem ser mais apropriadas.
Em outras
palavras, o ecletismo é a escolha, dentre vários estilos, do que parece ser
mais conforme a razão, ou que se afigura mais valioso de entre as teses de
inúmeros sistemas.
Ecletismo
vem do grego eklektismós.
Ecletismo significado
O ecletismo
pode ser definido também como um método filosófico ou científico que busca
fazer a conciliação de diferentes teorias. Por exemplo, nas artes e na
política, o ecletismo pode significar simplesmente o livre-arbítrio, isto é, a
liberdade de poder escolher aquilo que se julga melhor sem que se tenha apego a
certo estilo, preconceito ou marca.
Ecletismo na arquitetura
No Brasil, o
ecletismo na arquitetura nasceu no século XIX quando o país passava por uma
nova fase, um período em que quase toda a população prosperava economicamente e
com isso qualquer indivíduo tinha condições de desenvolver uma arquitetura de
boa qualidade.
A
arquitetura eclética consistia em uma junção de vários estilos distintos, como:
- Barroco.
- Renascentista.
- Neoclássico.
- Clássico.
- E medieval.
Esses
estilos diferentes resultaram no desenvolvimento de uma nova vertente
arquitetônica.
O ecletismo
na arquitetura se caracterizou também pela simetria, rigorosa hierarquização
dos espaços internos, pela busca da grandiosidade e riqueza decorativa.
O movimento
arquitetônico no Brasil foi propagado pela Escola Nacional de Belas Artes e
pela Academia Imperial de Belas Artes.
Ecletismo no rio de janeiro
No Rio de
Janeiro existem alguns exemplos de arquitetura eclética, como:
- Teatro
Municipal.
- Museu Nacional
de Belas Artes.
- Palácio Pedro
Ernesto (Câmara de Vereadores).
- Confeitaria
Colombo.
- Parque das
Ruínas, etc.
O ecletismo
é a qualidade do que é eclético.
A expressão
eclética ou eclético faz referência aos neoplatônicos, aos representantes da
filosofia helenística e filósofos renascentistas que buscam conciliar o
pensamento de vários autores clássicos.
Ecletismo religioso SINCRETISMO
No contexto
da religião, o ecletismo religioso se refere a como as pessoas se comportam em
relação à fé. No Brasil, há um verdadeiro ecletismo religioso, vez que existem
diferentes tipos de denominações/religiões/seitas, tais como:
- Espíritas.
- Católicas.
- Orientais.
- Umbandistas,
etc.
Todos esses
(e outros afins) fazem parte do mesmo “imaginário” religioso em que as pessoas
buscam analisar e encontrar argumentos prováveis ou verdadeiros para
sustentarem seus pensamentos e ações.
Ecletismo musical
Ecletismo
musical é a característica de uma pessoa que diz ser eclética em relação a
determinados estilos musicais.
O ecletismo
musical, segundo críticos, não deve se tornar uma ideologia em que é negada a
permissão para tecer críticas e manifestar preferências, já que é
característica natural do indivíduo buscar sons que lhe agradam; logo, é
perfeitamente aceitável que cada um estabeleça suas preferências musicais.
Mesmo que
uma pessoa seja eclética nos diferentes estilos de músicas, ainda assim ela
tende a gostar com mais intensidade de um do que de outro. Dessa forma, no
contexto ecletismo musical existem maneiras distintas de manifestar
determinadas preferências – umas mais ponderadas, outras fanáticas... Contudo,
todas são válidas.
MATRIZES ÉTNICAS NO BRASIL
As matrizes culturais do Brasil estão
relacionadas à formação cultural da população brasileira.
As bases destas matrizes foram estabelecidas pela miscigenação de diversos grupos
étnicos.
A população do Brasil é uma mistura rica
entre índios, brancos europeus e negros. A formação desta identidade cultural começou no período colonial.
Os traços culturais
dos brasileiros são muito diversificados. Essas misturas podem ser vistas de
forma bastante evidente nos cidadãos que vivem no sul do Brasil, no norte e no
nordeste.
As etnias que formaram a matriz cultural do
Brasil ainda estão presentes na cultura do país. É possível afirmar que a
primeira miscigenação que aconteceu em nosso país foi entre o branco europeu e
os índios brasileiros.
Os negros, que
foram trazidos ao país como escravos, constituem o terceiro elemento da
formação étnica do Brasil. Já a
última fase da miscigenação dos brasileiros aconteceu com a chegada dos
imigrantes que substituíram os negros nos trabalhos das fazendas depois da
abolição da escravatura.
No último cenário da
matriz cultural, que aconteceu na imigração no século XIX, houve uma nova
mistura de etnias entre brasileiros, europeus e asiáticos. A partir dessa
formação, a cultura brasileira recebeu diversas influências externas que deram
origem a nossa rica identidade nacional.
O Brasil, como se sabe, é um país com uma grande
diversidade étnica, ou seja, apresenta uma elevada variedade de raças e etnias.
Nesse caso, o termo “raça” não é compreendido em seu sentido biológico, mas sim
em seus aspectos socioculturais de modo a diferenciar os grupos populacionais
por características físicas externas, geralmente a cor e outros aspectos. Já o
termo “etnia” costuma definir as populações com base também em suas
diferenciações culturais e linguísticas, envolvendo também tradições, religiões
e outros elementos.
Há, dessa forma, uma incontável variedade de tipos
que definem a composição étnica do Brasil. Por exemplo, só de indígenas,
segundo dados do IBGE, existem cerca de 305 etnias que pronunciam mais de 270
idiomas. Esse número é acrescido às diferentes ramificações de povos europeus,
africanos, asiáticos e tantos outros que descenderam dos povos que migraram
para o país durante o seu período histórico pós-descobrimento.
De um modo geral, podemos dizer que a composição
étnica brasileira é basicamente oriunda de três grandes e principais grupos
étnicos: os indígenas, os africanos e os europeus. Os índios formam os
agrupamentos descendentes daqueles que aqui habitavam antes do período do
descobrimento efetuado pelos portugueses. Com a invasão dos europeus, boa parte
dos grupos indígenas foi dizimada, de modo que várias de suas etnias foram
erradicadas.
Já os negros africanos compõem o grupo dos povos
que foram trazidos à força da África e que aqui foram escravizados, sustentando
a economia do país durante vários anos por meio de seu trabalho. Boa parte de
nossa cultura, práticas sociais, religiões, tradições e costumes está associada
a valores oriundos desses povos. Dentre as etnias africanas que vieram para o
Brasil, destacam-se os bantos, os sudaneses e outras populações.
Já os povos europeus que vieram para o Brasil
basicamente se formaram de populações portuguesas, além de grupos franceses,
holandeses, italianos, espanhóis e outros, que configuraram a matriz étnica
predominante no país, segundo vários estudos.
Há de se registrar também a
miscigenação dessas diferentes composições étnicas que habitam o Brasil. Por miscigenação entende-se a mistura das diversas etnias, que deu
origem a novas populações que resguardaram traços físicos e também culturais de
ambas as suas matrizes.
A miscigenação entre brancos e negros
originou os povos chamados de mulatos. Já da mistura entre índios e brancos surgiram os mamelucos, considerados como os primeiros brasileiros no
período após o descobrimento. Já a miscigenação entre índios e negros deu
origem aos cafuzos.
Mas é claro que essa divisão é apenas
uma visão simplista, pois é impossível dizer que apenas essas etnias formam a
população brasileira, conforme o “mito das três raças” e suas
derivações. Na verdade, existem centenas ou talvez milhares de agrupamentos
diferentes ao longo do território brasileiro, de modo que qualquer
classificação sempre restringirá a um certo limite algo que é muito mais amplo.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) classifica a população brasileira com base em cinco tipos diferentes de
raças: os brancos, os negros, os pardos, os amarelos e os indígenas, cuja
distribuição podemos observar no quadro a seguir, elaborado com base em
informações obtidas pelo Censo Demográfico de 2010:
Diversidade Social
Diversidade Social
A Diversidade Social é o conjunto de diferenças e valores compartilhados pelos seres humanos na vida social. São expressões culturais, diferenças físicas, étnicas, crenças, modos de vida, classes sociais etc. O Brasil é uma das nações onde existe maior diversidade social em todos os sentidos.
- Cada indivíduo é único;
- Os indivíduos e suas sociedades estão inter-relacionados e interdependentes;
- As sociedades e culturas são dinâmicas: as mudanças podem ser rápidas ou graduais, mas irão sempre afetar diferentes membros da sociedade de modo a refletir as diferenças em termos de poder e status.
Esse é um tema bem abrangente onde há várias críticas sobre: modo de vida, renda familiar e dentre outras. Atualmente pessoas são julgadas por classe social, e por isso sofrem preconceitos por possuírem poucas oportunidades.
Moradores de rua são mais frequentes, até mesmo nas vias mais populares de cidades nobres.
E você, o que pensa sobre isso?
Moradores de rua são mais frequentes, até mesmo nas vias mais populares de cidades nobres.
E você, o que pensa sobre isso?
Qual a sua opinião diante desse fato existente em nosso meio de vida que tanto nos incomoda?
Cultura brasileira: da diversidade à desigualdade
A cultura brasileira é diversificada, o que não exclui a evidente desigualdade social. A desigualdade social, uma característica marcante de nosso país, é atestada pela evidente hegemonia de uma classe social nos processos de divisão social do trabalho e de divisão da renda, além de fatores como o acesso à saúde, educação, saneamento e segurança.
Apesar de vasta e ampla, a cultura brasileira torna-se símbolo de status para as elites, que selecionam arbitrariamente aquilo que deve ou não ser consumido, relegando o que não foi selecionado para o limbo da produção cultural. Ademais, a nossa rica cultura popular faz contraste ao nosso povo, desprovido, muitas vezes, de insumos básicos para a sobrevivência.
É comum escutarmos que o Brasil é um país miscigenado, de cultura vasta e crenças religiosas sincréticas. De fato, a formação étnica do povo brasileiro ocorreu, primeiramente, com a miscigenação entre povos africanos, portugueses (que já tinham em sua linhagem traços de miscigenação entre povos diversos do continente europeu) e indígenas.
Ao longo do tempo decorrido, desde o início da república, o Brasil recebeu imigrantes italianos, japoneses, alemães e de outros países sul-americanos. Isso somente atesta que, tomando o significado de cultura por uma concepção geral que envolve os hábitos, costumes, a culinária, as crenças e o modo de vida geral de um povo, o Brasil é realmente vasto.
Porém, essa concepção diversa da cultura brasileira pode resultar em um olhar equivocado quanto à não existência de mazelas sociais, como a desigualdade social, o elitismo cultural e o racismo.
Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, aponta sua análise sobre a sociedade colonial brasileira para um rumo, no mínimo, estranho: ele fala de uma relação harmônica entre negros e brancos no Brasil Colonial, o que parece ser um eufemismo que relativiza o que realmente aconteceu – a dominação pura e simples de brancos contra negros.
A miscigenação que Freyre utiliza como dado para atestar a sua teoria nada mais foi que fruto de abusos sexuais e estupros de homens brancos contra as suas escravas e contra as mulheres indígenas. Quando se relativiza a dominação branca durante o período colonial, tende-se a apoiar um racismo estrutural que perdura até hoje.
O elitismo cultural (que apesar de toda a vastidão cultural brasileira, existe por aqui) também é fator estruturante para a manutenção das desigualdades sociais que privilegiam etnias, classes sociais e regiões.
Durante muito tempo, a Antropologia formulou teorias que tentaram justificar a existência de culturas superiores e inferiores, de acordo com o desenvolvimento fenotípico dos povos que criaram essas culturas. Uma dessas teorias é o darwinismo social, que passou a ser questionado por Franz Boas, no fim do século XIX, e somente caiu de vez a partir do estruturalismo de Claude Lévi-Strauss.
Formação e diversidade cultural da população brasileira
O território brasileiro era habitado, até 1500, pelos povos nativos, chamados pelos europeus de índios. Porém, não havia apenas uma tribo ou uma vertente cultural indígena nas terras que os povos Tupi chamavam de Pindorama: eram quatro agrupamentos linguísticos diferentes (Tupi-Guarani, Jê, Caribe e Aruaque). Esses grupos étnicos eram divididos em milhares de tribos, essas divididas em aldeias. Cada tribo possuía seus costumes.
Com a captura e escravização dos povos africanos, pudemos observar uma vastidão cultural semelhante à dos povos indígenas, pois não havia uma só tribo de onde os portugueses capturavam os africanos ou uma só cultura africana. Os povos africanos eram vastos, divididos em várias tribos e de várias origens étnicas diferentes, o que conferiu à formação cultural afro-brasileira uma vastidão e amplitude tão diversa quanto à indígena.
A vinda de povos brancos, de origem europeia, para o Brasil, tanto portugueses (que por si só já tinham uma origem poliétnica) como a vinda de italianos e alemães, contribuiu para a miscigenação de nosso povo. No Brasil, surgiu uma cultura ímpar, fruto da forte miscigenação, que resultou em produtos culturais populares sem igual no mundo.
Há também em nossa terra e na formação de nosso povo o sincretismo religioso devido à mistura de crenças, o que resultou, por exemplo, no surgimento de uma religião genuinamente brasileira: a umbanda, que mistura elementos do candomblé e do kardecismo.
Leia também: Diferença entre o Candomblé e a Umbanda
Preconceito cultural no Brasil
Desde o início da colonização, um elitismo cultural reina no Brasil, pois os portugueses viam a si mesmos como superiores e os povos nativos como inferiores. O trecho transcrito a seguir atesta essa visão etnocêntrica:
“A língua deste gentio toda pela costa é uma, carece de três letras, não se acha nela f, nem l, nem r, coisa digna de espanto, porque assim não têm fé, nem lei, nem rei, e desta maneira vivem sem justiça e desordenadamente”i.
Mais tarde, quando os africanos começaram a ser escravizados por povos europeus, a escravidão assentava-se, igualmente, em um etnocentrismo racista e em um elitismo cultural: os europeus, brancos, julgavam-se superiores aos africanos por seus fenótipos e por suas características culturais que, no julgamento dos próprios europeus, eram superiores.
Os europeus tinham um sistema político governamental e com formação estatal, dominavam a pólvora e a escrita, além de terem moeda e iniciarem o capitalismo mercantilista. Os povos do sul desenvolveram-se de maneira diferente. Com exceção de alguns povos mesoamericanos, nativos da África e da América viviam em contato com a natureza e não estabeleciam relações comerciais nem centralização de poder.
O modo de vida dos nativos africanos e americanos era autossuficiente, e a sua cultura tinha ganhado contornos diferentes da cultura europeia. A justificação do domínio pela cultura é um forte elemento do preconceito cultural no Brasil.
Hoje, podemos falar da existência de um elitismo que culmina na discriminação daquelas pessoas marginalizadas (que estão à margem da sociedade, devido à exclusão social) e em um racismo estrutural. O racismo estrutural, muito forte no Brasil, é um tipo de racismo velado e indireto. Ele pode ser manifestado por meio de dados socioeconômicos, como os que apontam que os negros ganham, em média, 1,2 mil reais a menos que os brancos, segundo levantamento do IBGEii.
Esse tipo de racismo arrasta-se sorrateiramente desde a abolição da escravidão, que deu a liberdade por direito aos negros escravizados, mas não deu suporte educacional, econômico e de assistência básica para que aquela população pudesse organizar a sua vida. Teorias que apontam para uma democracia racial, como a de Gilberto Freyre, somente reforçaram a ideia de que estava tudo bem, quando não estava.
Por não possuir um regime de apartheid, como houve nos Estados Unidos, o brasileiro médio (em especial a população branca) cresceu acreditando que havia oportunidades iguais para negros, brancos e indígenas, quando, na verdade, nunca houve, e quem sofre com isso diariamente são os negros de classe baixa. Esses aspectos atestam que existe uma direta relação entre desigualdade social e diversidade cultural.
Diferença entre diversidade cultural e desigualdade social
Em termos de estrita interpretação, diversidade cultural e desigualdade social são completamente diferentes. Desigualdade social faz referência à diferença entre as classessociais e aos rendimentos de cada classe. Diversidade cultural faz referência à vasta quantidadede culturas diferentes existentes em um nosso território.
No Brasil, a associação entre os termos “desigualdade social” e “diversidade cultural” é possível, pois apesar de nossa diversa formação cultural, a exclusão social apresenta-se como um fator de exclusão que se manifesta, majoritariamente, por meio da diferença entre as diversas culturas que formam a população brasileira.
Historia \ Sociologia
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